Shirt Design

O ano de 2010 foi demasiado significativo no que diz respeito aos agitos culturais de que participei ( vide posts anteriores). Nessas oportunidades existe um fluxo incessante de pessoas igualmente ligadas à arte em seus mais instigantes desdobramentos. Bandas de rock, escritores independentes, atuadores cênicos, artistas performáticos, videastas e toda a sorte de interventores nos convidando a atribuir novos significados às coisas para além dos condicionamentos e dos hábitos perceptivos. Em um desses encontros tive contato com o trabalho da banda "Cavalo Baio e Os Pinho" cuja singularíssima proposta de narrar as crônicas desse universo regional caboclo-eslavo-descendente aqui nos confins dos pinheirais sob um revestimento punk rock, rende à quem se aventurar nas noites de rock do Rota da Lua, vulgo "Bar do Robison", grandes gigs da mais genuína diversão. Convidado pelo band leader Thiago para redefinir o logotipo da banda e produzir uma arte para estampar camisetas, mergulhei nesse espectro onírico repleto de imagens referenciais de uma sociedade essencialmente agrícola em meio à franca expansão industrial que a cerca. Elegi a pinha como signo do "fruto da araucária" e atendendo à sugestão do guitarrista Zinho, acondicionei esses elementos em formato de "sagrado coração"- ícone que reúne o sagrado e o pop em uma mesma tensão imagética- aludindo à um registro de vivências comum à essa geração alocada entre as refinarias e os trigais. Do resultado desse exercício de interpretação que se pretendia poético na mesma medida que vigoroso faço meu último post do ano agradecendo a parceria de todos que me acompanharam até aqui e aos que com este modesto sítio de experimentos visuais vierem a colidir favoravelmente em 2011. Big cheers for all mates!

Palestra na Biblioteca Pública do Paraná

Dizer que na tarde deste 9 de Dezembro imperava a atmosfera da improvisação no auditório da Biblioteca Pública, seria superlativo eufemismo. Explico. Não sem antes recorrer à expressão-chave da minha fala durante o Programa I do Projeto Filosofia do Rock (citado em posts anteriores) - Do It Yourself (D.I.Y) ; ou "faça você mesmo"- atitude-elo de identificação similar à todas as gerações da cultura punk desde seu proto-genitor Nova Yorkino nos anos 70. Não havia estudado a pauta. Sequer ignorava que me seria oferecido um horário no programa para que além da exposição de minhas peças,discorresse sobre a relação Artes visuais + Rock'n'roll como elemento integrador de sua estética pop. Confesso que apelei ao estradar auto-etnográfico relembrando a emoção na descoberta de cada capa de LP do Iron Maiden, nos petardos do álbum Creatures of The Night do Kiss em seu pankake mítico. Bem como nas placas tectônicas de advertências disciplinares assinadas em decorrência dos patches do G.B.H e Exploited pintados à tinta têmpera e costurados no púdico uniforme escolar. Em síntese, aquela sensação de apreensão pré-discursiva foi cedendo ao prazer anti-árcade de um divertido colóquio tangendo o universo imagético do Rock a partir da perspectiva do artista. No final prevaleceu um saudosismo sub-melancólico de Denis Arcand* ao constatar que "nada mais será como antes" e que não nos compete esperar das novas gerações que devolvam ao Rock'n'roll seu caráter desconcertante e vertiginoso dada sua absorção sistemática pelo mainstream tão bem mencionado no "The Great of Rock'n'roll Swindle" do Sex Pistols.

Estudo de Caso

fig.1
fig.2


Ao receber o convite do músico e arte-educador Léo Guimarães para desenvolver a logo do Coletivo Feitoria do Linho do Cânhamo ( organismo de pesquisa e promoção do "grande tambor" ou "tambor de sopapo" como é igualmente conhecido este instrumento de percursão presente na raiz histórica do extremo sul do Brasil ), tratei de buscar referenciais de sua própria unidade folclórica. Na variante proposta (fig.1) , desenhei um estilo vetorial que se geometriza assimetricamente possibilitando que o tipograma respire conduzindo-o à uma leitura melhormente arejada. Diferentemente, na proposta escolhida (fig.2) o purismo geométrico cede à pulsão orgânica do traço à giz pastel- conceito fundamental da ilustração- ancestral da concepção moderna de campanha publicitária. Nela, empreedi uma pesquisa formal que me levasse à uma estilização na tentativa de simular o rupestre e o primitivo, simbolizando o aporte de arqueologia social presente na base programática do coletivo.

New Artwork

Desenvolvi este mixed media para o cartaz do Projeto Filosofia do Rock produzido pelo
instituto L.E.TRA de Curitiba em parceria com Biblioteca Pública do Paraná e Base CWB. Evento este que ocorre nos dias nove e onze de dezembro de 2010 destinado à problematizar o rock enquanto objeto de discussão filosófica. Estão programados shows de bandas convidadas, exposições artísticas, performances teatrais, intervenções poéticas além de um painel de debates com a participação de profissionais ligados à musica e professores.

Agenda

Um pub pode ser um espaço instigante para que a arte seja experimentada. Um hambiente com mesas, cadeiras, sofás me parece um modo efetivo de promoção para o artista que procura dar formas compartilhadas à sua experiência individual. Allnighters regados à poket-shows, intervenções poéticas ou mesmo números musicais sempre me impressionam seja pelo formato sarau ou mesmo pela aura cabaret que esses eventos proporcionam. Diga-se de passagem as grandes revoluções do homem tiveram seu engenho dentro de cafeterias. Ao receber o convite do produtor multi-meios Fábio Biondo para expor próximo sábado na noite Rock Inasion do Blues Velvet bar, o que de fato me chamou a atenção foi exatamente a expectativa de figurar entre todo um painel de possibilidades : boa música, concurso de videomakers e exposição das minhas peças gráficas. Convido à todos os seguidores do blog e amigos à prestigiar o Projeto Rock Invasion neste sábado no Blues Velvet em Curitiba amenizando o frio atípico de novembro trazido pelas correntes marítimas da El Niña.

Sketches e estudos

No período que estive virtualmente exilado devido à problemas com o PC aqui de casa ( nosso modem foi pra Marrakesh, trocamos o gabinete, enfim...) aproveitei para exercitar as técnicas tradicionais de desenho sem o auxílio de recursos digitais. Estarei postando aqui sketches variados, apontamentos e estudos aleatórios realizados com materiais diversos ( pincel, bico de pena, lápis, pastel, crayon,caneta futura, ecoline, etecétera).

Manifesto Cultural Araucária 2010

Por Jô Gadonski:

Em certos três dias de julho de 2010, a cidade de Araucária estranhava a movimentação nos arredores do Diesel Clube. Uma leva diferente do público rotineiro da casa noturna tomava conta das linhas territoriais típicas do burburinho “descolado”, causando certa curiosidade ao povo que passava por aquela região após as 20h.

Contando com apresentações musicais, cênicas, poéticas e plásticas, o “Manifesto Cultural Araucária” - idealizado por Hiderson Marciano (Cruz Credo News), que contou também com o apoio do “URRA!” e do “COMA” - aconteceu nos dias 16, 17 e 18 de julho deste ano, sendo o primeiro dia de festa no Diesel Clube, e os outros dois dias no Teatro da Praça – espaço já conhecido do montante cultural out ou in da cidade.

No Milk Today, Diedrich e os Marlenes e Maxixe Machine, bandas com toda uma trajetória no cenário paranaense – e também nacional – quebraram o gelo das noites frias de evento. Como já era de se esperar, satisfação geral; tanto para o pessoal que curte o Rádio Caos do Rodrigo¹, como para os punks “que nunca vão parar de cantar”², quanto para as meninas que corriam atrás de uma foto com Oneide Diedrich.

As bandas locais, como sempre mantendo posição de valoração a própria terra natal, mostraram apresentações vigorosas, honestas e cheias de carisma. Dentro de seus próprios conceitos, os grupos demonstraram competência com o que fazem – desde o punk rock 4 acordes, passando por diversificados estilos de metal até o segmento alternativo. Enfim, bandas mais antigas e mais novas fizeram um verdadeiro show de união no palco.

A mostra de arte foi a soma de esforços intelectivos com propósito na criação plástica, no dia 16 (sexta).
Cris Castro (foto 1), designer gráfico e artista plástico de Porto Alegre – RS, apresentou 6 obras que compreendem Picturalismo fotográfico e Digital Painting. A saber:
Les Ventriloque, 2009; De onde ela vem, 2010; Religare Machina, 2009; Astarté, 2009;
Quando calam as cigarras, 2009; Scene Queen, 2010.

Yuri Seima, artista plástico de Araucária – PR, apresentou 6 telas em sintonia com Low Brow Art e as correntes do surrealismo pop.

A Escola Fazendo Arte também teve sua participação, apresentando 5 telas de seus alunos, contando com figuração, paisagens e natureza morta.

Para a instalação das telas e da iluminação do local, a exposição teve o auxílio de Rafael Tirapelli, Thiago Faggiani, Juliana Leepkaln e Maísa Leepkaln, e registros fotográficos de Nany Santos e Jhennyfer Pertille.

O métier underground cultural de Araucária sempre voltou seus olhos para a união dos diversos grupos e artistas de nossa cidade, organizando festivais e shows de portes variados. No entanto, o Manifesto Cultural representou muito no que diz respeito a execução daquilo que já se havia planejado há tempos, em reuniões e conversas de amigos.
Ainda que começando timidamente, Araucária demonstrou que pode ter seu espaço reservado nas lacunas de eventos de grande porte no estado do Paraná. O conceito de união, tão comentado em conversas, tópicos e reuniões, fez-se valer nestes 3 dias de julho, apresentando um forte manancial de idéias e talentos – mesmo que se encontrem em fase de lapidação.


¹ - Rodrigo Barros, vocal da Maxixe Machine e Beijo AA força, apresentador do programa Rádio Caos da 91 Rock.
² - Refrão da música “Resistência” do No Milk Today.